11 julho 2010

escritório

quase não saiu, ele precisou de esforçar bastante pra cuspir um bom dia atravessado e cheio de mal humor e por um pouco de segundos não se engasgou porque quase engoliu as palavras emboladas na boca. elas saíram por entre os dentes. e eu pude ver quando ele amarrou os lábios concretando para dentro de si uma série de pensamentos e dúvidas. os olhos reviraram nas órbitas e uma sombra passou por entre os cabelos dele. baixou a cabeça e fingiu estar concentrado na leitura do jornal. só fingiu, porque na verdade não queria estar ali, não com aquelas pessoas, não comigo.


o dia ia correndo, ligações, almoço, hora de ir embora. ele ficou na mesma posição o dia todo. fingindo concentração no papel cheio de letras. mas a verdade de tudo isso é que aquelas tantas palavras se transformavam em viagens lineares, onde ele era o rei, e todas as outras vogais e consoantes eram apenas simples formações rochosas ao longo do caminho.

ele se concentrava para tentar transpô-las.

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