29 junho 2010

inverno

a depressão é a imperfeição no amor. (...) eu pensava que, quando nos sentimos pior, lágrimas jorrassem, mas a pior dor possível é a dor árida da violação total que chega depois de todas as lágrimas já terem se exaurido.
(o demônio do meio - dia: uma anatomia da depressão - andrew solomon [trecho p. 17; p. 23. ed. objetiva. edição de bolso. trad. myriam campello. rio de janeiro. 2010)


ardia dentro dela um frio infantil. desses que começam fracos e vão crescendo sem ser percebidos, rodeando com calafrios e deixando os pelos dos braços ouriçados. ela não havia se dado conta e quando percebeu o frio já tomava o seu peito, todo o peito. atingira o coração tão fatalmente que o trincara, tamanha a força da camada glacial, impedindo qualquer ser humano de chegar naquelas terras, antes, habitadas.


então ela se encolheu toda, mesmo sabendo que não se deve adormecer no frio intenso, sorriu amarelo fechou os olhos e dormiu.

2 comentários:

Carlos Howes disse...

E o que fazer para arrebentar este estado tão glacial? Chega a nos dar calafrios no relato. Talvez só calor humano.

Um belo texto, como sempre. Gostei do novo layout!

Jaya Magalhães disse...

Primeiro que gostei do lay.

Segundo que, porra, esse texto só poderia ter sido lido hoje. Pelo frio que faz, ao redor. E, principalmente, porque essa tarde alguma coisa trincou aqui dentro. Preciso urgentemente que essas terras sejam habitadas. Preciso de fogueiras.

Um beijo, dona P.